São Paulo, 07 de fevereiro de 2014.
Comunicado nº 08_14
Assunto: Uso do Celular e acesso à internet
Prezados Pais, Responsáveis e Professores,
Recentemente, vários estudos apontam a Dependência de Internet (DI) como um novo transtorno do século XXI. Este transtorno baseia-se na inabilidade do indivíduo em controlar o uso da internet (o indicado pela Academia Americana de Pediatria é ficar conectado à internet por, no máximo, 2 horas por dia). O uso excessivo de jogos eletrônicos e internet vem demonstrando similaridades com as características de grupos de dependentes químicos. Isso se deve, principalmente, ao fato de as áreas do cérebro que respondem aos estímulos de jogos eletrônicos serem similares às áreas de pacientes dependentes de substâncias. É relatado que o uso excessivo desses jogos aumenta a atividade cerebral, particularmente no córtex pré-frontal, semelhante à fase de fissura dos dependentes químicos. Indo mais além, resultados já mostram que usuários dependentes de jogos eletrônicos sofrem alteração no neurotransmissor dopamina e diminuição em hemoglobinas oxigenadas. Com a diminuição dopaminérgica, as reações diante de experiências de sensibilização e reações emocionais e de recompensa são alteradas.
A revista Educar para Crescer da Editora Abril descreveu em seu site (http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/viciado-em-internet-620916.shtml) uma cena bastante comum, porém que indica que o protagonista necessita de cuidados, pois já está apresentando um comportamento preocupante. Vejam a cena: “Você chega da escola ao meio dia. A primeira coisa que faz é entrar no msn. Em seguida, almoça e se conecta a alguma rede social: manda recados para os amigos e joga os games oferecidos, até às três. Como se não bastasse todo o tempo que já passou online, decide pesquisar na rede o tema do trabalho que terá em classe na semana que vem (ou pelo menos é o que diz para os seus pais que fará). Às cinco, já com a vista cansada, liga o videogame na internet e joga com os amigos, conversando com eles por meio de um fone de ouvido. Às oito vai jantar, faz rapidamente o dever de casa e volta para o msn, até a hora de dormir, depois de muita insistência dos seus pais, lógico.”
Os pais dos adolescentes (que fazem uso excessivo da Internet) costumam relatar déficits de comportamentos manifestados em suas rotinas, refletindo-se nas áreas familiar, acadêmica/profissional, social e na saúde física. Acrescentam-se dificuldades pela labilidade de humor, comportamento depressivo e reações emocionais impulsivas quando são restringidos no uso da rede mundial. No mesmo site da revista Educar para Crescer, especialista listam 16 sintomas (ver lista abaixo) do vício e alertam que apresentar 1 a 4 sintomas não significa, necessariamente ser viciado, mas que é preciso se controlar com relação ao acesso à internet. Porém se houver mais de 4 sintomas e eles serem frequentes, o melhor a ser feito é procurar um especialista na área de dependência (psiquiatra ou psicólogo). O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Hospital das Clínicas presta atendimento aos pacientes dependentes de internet desde 2007.
Lista de Sintomas do uso excessivo da Internet
1) Ter mais de cinco amigos virtuais, que você simplesmente não conhece pessoalmente;
2) Exclusão. Antes, vários amigos ligavam para você querendo conversar. Agora, isso é bem raro;
3) Ficar irritado quando está há mais de uma hora sem internet;
4) Evitar sair de casa se for para ir a lugares sem computador;
5) Só falar e saber de games da web, redes sociais e "pessoas virtuais";
6) Mentir a respeito do tempo que costuma passar conectado;
7) Ir mal na escola por conta do computador - as notas baixas começaram desde que passei a usar mais a internet;
8) Desobedecer os pais quando eles o mandam sair do computador – “geralmente meus pais enchem o meu saco para eu sair do computador e a cada dia insistem mais”;
9) Não ter motivação para fazer nada que não tenha a ver com o computador ou com a internet;
10) Estar com a autoestima bem baixa;
11) Ter se tornado um adolescente caseiro e solitário;
12) Sempre se negar a fazer as coisas que antes lhe davam muito prazer;
13) Se sentir triste, ansioso ou deprimido na maior parte do tempo;
14) Ir à lan houses como se esse fosse o principal passeio ou atividade do seu dia; inclusive gasta muito dinheiro com isso;
15) Já ter passado mais de 10 horas online em um único dia;
16) Já deu prejuízo para os seus pais ou já comprometeu mais da metade da mesada para pagar as contas da lan house.
Até o momento não se observa na literatura qualquer forma de intervenção estruturada com famílias de adolescentes diagnosticados com dependência de internet. Porém, sabemos que a família deve se envolver no tratamento visto que costuma ser bem difícil o jovem com dependência a se controlar sozinho. Um ponto importante é fazer com que o adolescente perceba que ele fica muito tempo na internet.
Pensando em todos estes aspectos e preocupados com alguns alunos e alunas, realizamos no dia 7 de fevereiro uma Assembleia de Classe Temática com os alunos do 3º ano do ensino Médio. Neste encontro os alunos e alunas deliberaram que:
1) Todos os envolvidos ajudarão na percepção do dependente em tecnologia.
2) O uso do celular está restrito ao horário do intervalo. Portanto, das 7h00 às 9h30 e das 10h00 às 12h30 os celulares deverão estar desligados dentro da mochila.
3) Estas decisões terão validade para todo o ano letivo de 2014, sendo o processo avaliado ao longo deste período, a fim de se mensurar a efetividade das ações propostas para a diminuição do problema verificado.
Acreditamos que este é um problema de saúde pública. Os adultos possuem dificuldades em intervir em algo relativamente novo, em especial, em situações que não tiveram vivencias na fase adolescente (falta de experiência vivida). Pedimos a colaboração de todos não realizando ligações para os celulares destes alunos durante as aulas. Caso seja necessário falar com os mesmos, favor ligar para a nossa secretaria que o recado será encaminhado. Destacamos que já realizamos intervenções dirigidas e intencionais do bom uso do celular em situações de estudos; com efeito, os alunos e alunas poderão acessar os aparelhos eletrônicos em situações específicas, e somente com a orientação dirigida e acordada entre alunos(as) e o educador.
O Colégio Marupiara já possui um procedimento claro em relação ao uso do celular nas situações de estudo, mas este acordo entre os alunos e alunas do 3º anos do Ensino Médio nasce da problematização e da criação de uma medida construída e consolidada por todos.
É importante que essa estratégia utilizada por nós educadores se apresente como referência para que se inicie no âmbito familiar a mesma intervenção entre pais e/ou responsáveis e os seus filhos(as). Assim os adolescentes poderão fortalecer suas decisões considerando que a mudança e a adequação ao uso do celular e da Internet não são atos e responsabilidades somente da escola.
Atenciosamente,
Orientação Pedagógica